Jamilah era uma adolescente moçárabe, uma jovem que sentia e professava o antigo cristianismo visigótico, na sua íntima clandestinidade, mas que tinha que exteriorizar hábitos e costumes sócio-culturais muçulmanos, na Al-Ushbûna onde vivia, uma pequena cidade da grande província de Al-Garb al-Andalus. O que Jamilah viu nesse dia, mudaria o Mundo, tal como o conhecia, para sempre!
# Parte 1 # : Al-Ushbûna (nome que teve Lisboa, ocupada pelos mouros), bairro de Aljama, início do séc. X
Da efervescente alcáçova, pela colina abaixo, os nossos olhos perdem-se pelas cúpulas e torres das mesquitas, igrejas e sinagogas, pelo casario caiado térreo pautado aqui e ali por arcos e traços da arquitectura e arte muçulmana, sentimos os aromas das comidas típicas no ar, os pregões da venda de produtos no souk (mercado tradicional árabe).
Lá mais em baixo, próximo da Porta de Ferro, os passos apressados da jovem Jamilah sobem a rua e afastam-se da pequena mas a mais importante basílica moçárabe (os moçárabes eram comunidades de cristãos visigóticos que viviam sob domínio muçulmano, com algumas liberdades sociais e religiosas, com a contrapartida de aceitarem a governação e a cultura árabe, e o pagamento obrigatório do imposto per capita jizya).
Apesar de ser adolescente, Jamilah, um nome islâmico que significa bonita, amável e graciosa, deve manter a compostura e o acato humilde de uma mulher, nesta pequena cidade árabe da grande província de Al-Garb al-Andalus (território da península ibérica, tomada pelo berbere Tarique ibn Ziyad, nos anos entre 711 e 713).
Jamilah, já atrasada, precisava regressar a casa com a bilha de água que tinha ido abastecer à fonte e levá-la à sua mãe, sem mais demoras.
Entra em casa e ouve o seu pai e tio a falarem em voz baixa, em frente de um mapa, sobre a mesa, com ar grave e preocupado, comentando que na alcáçova os berberes dominantes planeavam destruir a basílica e edificar uma nova e importante mesquita, enxotando os “cães infiéis” para longe… a bem ou a mal. Chegava a hora de nos mudarmos para a periferia ocidental.
Falavam ainda de um santo da Galícia, um cavaleiro “mata-mouros”, que repousava agora numa nova e bela catedral, com milhares de peregrinos e viajantes que percorriam os caminhos de Compostela durante muitos dias só para receberem as bênçãos sagrados desse tal Tiago.
O seu pai falava de um “Cubus Veritas” quando então deu pela sua presença, mandou-a embora e baixou-se enquanto ela saia apressadamente dali, não sem olhar sorrateiramente para trás a tempo de o ver guardar o mapa, bem protegido, num buraco da parede da cozinha.
Do alto do minarete da mesquita principal, o muezim chamava os crentes para mais uma das cinco orações diárias:
– Allah hu Akbar (Alá é grande)!
Apreensiva, Jamilah levou instintivamente a mão direita ao humilde e tosco crucifixo de madeira que tinha pendurada ao pescoço… longe da vista mas perto do coração.
– O Senhor nos proteja e guarde!…
# Parte 2 # : Lisboa, actualidade
Ao longo dos tempos, arqueólogos, historiadores, matemáticos e teólogos, seguiram várias pistas e encontraram o misterioso mapa que os familiares de Jamilah esconderam! Ou parte dele, já que para prevenir que o misterioso segredo que o mapa encerra passasse para mãos indevidas, foi dividido em três partes.
Três – a conta que Deus fez…
Durante onze séculos o mapa do pai de Jamilah foi escrupulosamente guardado em segredo por vários descendentes, nomeadamente pelos morgados de Miranda.
Até agora!
Recentemente foi feita uma intrigante descoberta numa outra igreja, outrora conhecida como a antiga basílica cristã de Santa Maria de Alcamim.
De cada um dos lados da capela-mor existem duas pesadas lajes de pedra tumulares.
Por baixo delas, os restos mortais de dois irmãos que serviram na Segunda Cruzada a Jerusalém, depois de terem participado, em 1147, na reconquista de Lisboa, ao lado de D. Afonso Henriques e Gualdim Pais.
Numa dessas lages, com um pequeno quadrado gravado num canto, ao lado do corpo do cruzado foi encontrada uma estranha caixa embrulhada num bocado de tecido antigo com a inscrição sicut in terra et in caelo, ou seja, assim na Terra como no Céu.
Até agora têm tentado decifrar o seu significado, tentado abrir a caixa, mas sem sucesso.
Ontem, um professor do Vaticano, o responsável duma comissão de especialistas, contactou-me e mostrou-me a caixa, auscultando a minha opinião.
À primeira vista trata-se de uma caixa muito simples, em forma de cubo, pequena, sem marcas ou adornos, de madeira antiga, talvez do séc. XII ou XIII; não contém fechadura nem indícios de como pode ser aberta.
O professor contou-me ainda que um colega seu, o Dr. Gene Hwang, um ilustre matemático taoísta, acredita que essa caixa representa a dualidade de tudo o que existe no universo: O Yin e o Yang, o interior e o exterior, o segredo e a revelação, a parte de cima e a de baixo, o Céu e a Terra.
O taoísmo, enquanto corrente filosófica e religiosa, tem origem no termo chinês Tao que significa “caminho”, um caminho a percorrer.
O professor confiou-me a antiga caixa de madeira, assim como uma pequena fotografia do Dr. Hwang com a sua teoria aplicada a esta misteriosa caixa, assim como um conjunto de pequenas peças que representam as forças de atração que regem o Céu e a Terra, pedindo-me ajuda na resolução deste mistério, na revelação do segredo de Jamilah.
# Parte 3 # : Uma aventura inesquecível
Num dos passeios LighKeepers da série “Sinais.LX”, em desenvolvimento desde 2013, vários participantes ingressam numa aventura, original, única, muito emotiva e sensorial, e inesquecível, que em grupo e duma forma interactiva, vivem a emoção da descoberta deste mistério, de uma lenda esquecida e encerrada no coração de Lisboa.
Aqui mesmo ao seu lado… BREVEMENTE!